Agora são 1:08 do dia 03 de agosto de 2025

Crise na Saúde Indígena: Bebê Apinagé Morre à Espera de Vaga em UTI no Tocantins

A crise no atendimento à saúde indígena no norte do Tocantins ganhou mais um capítulo trágico. Uma bebê do povo Apinagé, Sibele Apinagé, de quase seis meses de idade, morreu no Hospital de Augustinópolis enquanto aguardava uma vaga em Unidade de Terapia Intensiva (UTI).

A situação, denunciada pelas famílias indígenas desde outubro do ano passado, se agrava com a falta de estrutura e resposta das autoridades.

Sibele estava doente havia semanas. Em vídeos gravados pelos pais ainda na aldeia, é possível ver o sofrimento da criança com a barriga inchada e dificuldade para respirar. “Olha aí, vê a respiração dela que continua cansada. A barriga ficou inchada de noite e ela não dormiu”, relatou o pai da bebê, em desespero.

Após muita insistência da família, a menina foi internada. No entanto, sem conseguir acesso a uma UTI, seu estado de saúde se agravou e ela não resistiu. O avô da criança, Antônio Apinagé, desabafou:

“O paciente já está em situação grave e fica jogado. Eles não encaminham para onde tem recurso. Estão jogando com a vida dos pacientes indígenas.”

A crise se repete em outros casos. A bebê Aiane Iré Xavito Apinagé, com apenas 23 dias de vida, também enfrentou dificuldades para receber atendimento. A família afirma que o socorro foi negado em dois locais, inclusive no hospital de referência de Augustinópolis. A reanimação da recém-nascida foi feita pela própria avó dentro de uma ambulância, até que ela conseguisse suporte de oxigênio e fosse finalmente internada. Na noite desta terça-feira, a família foi informada de que Aiane seria transferida para Palmas.

Desde outubro de 2024, 11 indígenas Apinagé morreram sem acesso a exames, diagnóstico ou transporte adequado. A situação já foi tema de reportagens, e tanto a Defensoria Pública do Estado quanto a Defensoria Pública da União estiveram na região para levantar os casos mais urgentes.

O povo Apinagé vive em 66 aldeias na região norte do Tocantins, na divisa com o Maranhão. Em maio deste ano, o Ministério Público Federal realizou uma audiência pública em Tocantinópolis para apurar denúncias de desassistência, mas segundo as lideranças indígenas, pouco foi feito desde então.

“Estamos com várias crianças indígenas com viroses, gripe, cansaço, e muitas com pneumonia”, alertou Marlucia Apinagé, liderança da comunidade.

O avô de Sibele reforça o apelo:

“A gente tem reclamado, pedido audiência com o Ministério Público, recorrido às autoridades. Mas continuam nesse jogo com a vida dos pacientes. E o paciente não é tratado.”

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