Áudios e mensagens obtidos pela Polícia Federal na operação Fames-19 apontam diálogos entre investigados que citam diretamente o governador afastado do Tocantins, Vanderlei Barbosa. As conversas integraram o conjunto probatório que levou ao afastamento do governador, que nega irregularidades.
Em um dos trechos apreendidos, Paulo César Lustosa — conhecido como PC Lustosa e alvo de busca e apreensão em 3 de setembro — conversa com seu irmão Wilton Rosa Pires sobre supostas práticas no governo. PC Lustosa diz: “Cara, sai da mão do [Mauro] Carlesse, entra na mão do Vanderlei. Meu deus do céu, véi, cê não imagina o esquema que esses caras tão montando aí. Então, assim, eu acho que tem que rever um monte de coisa aí viu, bicho? Tá difícil, ficou um lugar difícil.”
Wilton responde valorizando a postura de outro político: “Tá horrível, sai dum mala entra no outro […] gostei da atitude do Júnior Geo [deputado estadual], cara. Ó bicho, vou falar uma coisa procê… eu não sei se é mala ou não é, mas pelo que eu ouvi falar de algum pessoal aí […] é um cara que não aceita propina, não. É um cara que não arma esquema, não, bicho. Na boa, tô te falando a real, bicho. Ele não faz conchavo, não. Tô te falando, todo mundo fala isso pra mim lá, meu irmão. Até com emenda tudo o cara é certíssimo véi…”
PC Lustosa retruca, levantando suspeitas sobre intermediários: “Ah, bicho, eu não sei não viu Wilton.. É difícil, o cara se manter no poder, com as facilidades que tem… Isso é.. ele não aceita, mas ele tem gente que aceita por ele. Então assim, ele não aceita não: ‘Ah, não aceito, não’. Mas tem gente que pega por ele, entendeu? Eu já vi isso aqui, em um monte de lugar. O cara é mó gente boa, num aceita de jeito nenhum, mas tem um cara dele que vai lá e pega por ele. Diferente.”
As conversas foram juntadas ao pedido que autorizou as ações da PF e constam na decisão do ministro Mauro Campbell Marques, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). No despacho, o ministro registra que, em diversos diálogos, há alusão ao “recebimento sistemático de propina por parte do governador Vanderlei Barbosa, sempre em numerário em espécie”, o que, segundo o magistrado, reforça a convicção acerca da existência de organização voltada à apropriação de recursos públicos no governo do Estado.
A investigação mira contratos para a compra de cestas básicas e frangos congelados. Segundo a PF, foram pagos cerca de R$ 97 milhões em contratos, com prejuízo estimado aos cofres públicos de R$ 73 milhões. Na decisão que autorizou as diligências, PC Lustosa é descrito como quem “atuou como uma espécie de intermediário na execução do esquema delitivo de desvio de recursos públicos por meio de contratos de fornecimento de cestas básicas, com amplo acesso à cúpula do Poder Executivo Estadual Tocantinense”.
PC Lustosa é ex-marido da atual primeira-dama do Tocantins, Karynne Sotero Campos. Todos os citados negam envolvimento: Vanderlei Barbosa afirma não ter cometido irregularidades, diz não manter vínculos de proximidade com os investigados e garante nunca ter autorizado ninguém a agir em seu nome; PC Lustosa também nega os fatos e afirma que as conversas foram tiradas de contexto. A operação Fames-19 segue em investigação pela Polícia Federal e tramita nas instâncias competentes.
Com informações do site Metrópoles
