A história de Bonifácio começou com a chegada da família Gomes a Tocantinópolis

Por volta de 1947, em busca de melhores condições de vida e de educação para os filhos, uma ramificação da família Gomes de Souza chegou a Tocantinópolis, procedente de Montes Altos (MA). Viagem capitaneada por Antônio Gregório de Souza e Temótea Gomes de Abreu, que trouxeram, além dos haveres de costume, uma numerosa prole de doze filhos: Osvaldino, Martinho, Salustiano, Alziro, José, Alírio, Maria do Espírito Santo, Antenor, Agripino, Carmosina, Paulo e Luísa Gomes de Souza. Permaneceram em Montes Altos os filhos Alice e Manoel Ribeiro de Souza.

Tocantinópolis, situada às margens do rio Tocantins, era na época uma importante via de comunicação e transporte e apresentava atraente dinamismo socioeconômico, rivalizando com Porto Nacional em educação e cultura no norte goiano. A família Gomes rapidamente fincou raízes e prosperou. O primeiro ramo de atividade foi o comércio: instalaram-se na Rua Nossa Senhora de Fátima, esquina com a Travessa Pedro Brito, sob a razão social GOMES & IRMÃOS, popularmente conhecida por “A Garantia do Povo”.

A afinidade política da família com o Partido Social Democrático (PSD), de Francisco da Silva Queiroz, marcou as primeiras participações no cenário público local. Diversos membros destacaram-se na política municipal e estadual: Martinho (vereador); Salustiano (Salim Gomes) — vereador por cinco mandatos, vice‑prefeito e juiz de paz; José — vereador e prefeito de Nazaré (1970–1972); Alziro — prefeito de Tocantinópolis (1962–1965), deputado estadual (duas legislaturas em Goiás) e deputado federal (uma legislatura pelo Tocantins).

Origem e família de Salustiano (Salim) Gomes de Souza 

Salustiano Gomes de Souza, mais conhecido como Salim Gomes, casou‑se com Matilde Martins Araújo de Souza, filha de Antônio Campinas de Araújo e Margarida Martins de Araújo. Dessa união nasceram dez filhos: João Pedro, José Bonifácio, Antônio Gregório Neto, Maria de Fátima, Vera Lúcia, Maria Aparecida, Simey, Elizabeth, Fabion e Margareth Gomes de Souza.

Nascimento e batismo 

José Bonifácio Gomes de Souza nasceu em 5 de junho de 1951, em um casarão de estilo antigo na Rua 21 de Abril. Recebeu no batismo o nome do santo do dia — São Bonifácio.

Carreira inicial: Polícia Federal e INSS 

Por concurso público, ingressou na Polícia Federal como agente, cargo que exerceu por 11 anos. Em seguida, também por concurso, assumiu vaga entre os procuradores do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

Casamento e filhos 

Em 20 de julho de 1974, casou‑se com Neusa Terbino Leite, na Igreja de Nossa Senhora de Fátima. Do casamento nasceram quatro filhos: Luciana, Leondiniz, Paulo e Pollyana Gomes de Souza. É também pai de Michelle Gomes de Souza, Lucas Gomes de Sousa Apinagé, Ana Alice Gomes de Sousa e José Antônio Gomes, todos reconhecidos.

Formação jurídica e o gosto pela política 

Inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil — Seccional Goiás (n.º 6.883) e Seccional Maranhão (n.º 3.419/A) — exerceu a advocacia por curto período antes de se dedicar inteiramente à política. Embora tenha atuado como procurador do INSS, sua vocação foi a política.

Vereador (1983–1988) 

Iniciou a vida pública como candidato a vereador em 1983. Não foi eleito inicialmente, mas assumiu a cadeira após o falecimento do titular Valdir Bandeira Lima (“Valdir do Posto”). Como vereador, se destacou pela fiscalização e por denúncias, se valendo da experiência na Polícia Federal. Admirador de políticos locais como Antônio Gomes Pereira, Darcy Gomes Marinho, Alziro Gomes de Souza, José de Ribamar Marinho e José Sabóia de Sousa Lima, sua atuação esteve alinhada com as tradições políticas da cidade.

Um episódio notório desse período virou reportagem nacional: em fevereiro de 1985, o jornal O Globo veiculou matéria relatando um conflito entre indígenas Apinajé e moradores de Tocantinópolis em que Bonifácio teria baleado um sargento da PM no posto de gasolina durante um episódio de grande tensão entre as partes. A matéria descrevia ainda o clima de conflito regional e a atuação de lideranças locais e da FUNAI naquela crise.

1º mandato como prefeito (1989–1992) 

Ainda vereador, Bonifácio manifestou o desejo de chegar ao executivo municipal. Se candidatou a prefeito em 1988 pelo PFL (Partido da Frente Liberal). Apesar das dificuldades iniciais e da falta de recursos, liderou a apuração após a chegada das urnas de Cachoeirinha e venceu a disputa por margem de 211 votos, derrotando candidatos considerados favoritos como o ex-delegado Sebastião Lima.

Serviço público estadual (1995) 

Encerrado o primeiro mandato, foi nomeado pelo governador José Wilson Siqueira Campos para o cargo em comissão de auditor‑geral do Estado (CGE‑1), a partir de 2 de janeiro de 1995, com chefe de gabinete na assessoria. A Auditoria Geral exercia a função de controle interno das despesas do Executivo. Posteriormente, pela Medida Provisória n.º 197, de 1.º de maio de 1995, a Auditoria foi absorvida pela Secretaria da Fazenda. Em seguida, Bonifácio foi nomeado presidente do Instituto de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado do Tocantins (IPETINS), cargo que deixou diante das propostas de privatização do Instituto.

Suplência e breve atuação no Senado (1996) 

Em 1994 foi eleito primeiro suplente do senador Leomar Quintanilha. Em 3 de abril de 1996, assumiu a vaga do titular que estava no governo do Estado (Secretaria de Estado de Indústria, Comércio e Turismo) e exerceu o mandato de senador por aproximadamente sete meses. Na condição de parlamentar filiado ao Partido Progressista Brasileiro (PPB), trabalhou pela viabilização de recursos para o Tocantins e para seu município natal.

2º mandato como prefeito (1997–2000) 

Em 1996, deixou a senadoria para concorrer à prefeitura de Tocantinópolis pelo PPB, tendo Valdenor Gomes de Oliveira como vice. Enfrentou campanha competitiva, mas foi eleito com 4.200 votos, contra 3.701 dos adversários.

3º mandato como prefeito (2001–2004) 

Com a possibilidade de reeleição, se candidatou novamente com Valdenor como vice. A eleição de 2000 foi a primeira com urnas eletrônicas no município; foi reeleito com 5.208 votos contra 3.553 do adversário Antônio Queiroz. Em campanha, adotou postura confiante e atribuiu parte do êxito às ações realizadas em mandatos anteriores, como programas habitacionais.

Tentativa de voltar a Brasília (2006)

Em 2006, Bonifácio candidatou‑se a deputado federal. Disputando como azarão, conquistou a impressionante marca de 31.248 votos, sendo o nono mais votado, desempenho que o colocou à frente, inclusive, do então deputado federal eleito e hoje governador Laurez Moreira.

Logo após essa eleição, sofreu um trágico acidente de carro em uma rodovia da região do Bico do Papagaio, do qual se recuperou ao longo de um período prolongado.

Deputado estadual (2010 e 2014)

Em 2010 candidatou‑se a deputado estadual e foi eleito com 13.578 votos, dos quais 6.416 foram obtidos somente em Tocantinópolis. Em 2014 buscou a reeleição e aumentou o total de votos para 14.866, mas teve redução da votação em sua cidade natal: obteve 4.359 votos em Tocantinópolis, 2.057 votos a menos que em 2010.

Acidente, doença e falecimento.

José Bonifácio vinha enfrentando um tratamento contra o câncer. No entanto, sua morte ocorreu de forma repentina no final da tarde de 1.º de dezembro de 2025, em Araguaína, aos 74 anos. Na semana anterior havia sofrido um grave acidente de trânsito, na noite de quarta‑feira, 26 de novembro, nas proximidades do Colégio Padrão, no Bairro Alto Bonito.

Segundo relatos, ele perdeu o controle do veículo e colidiu contra uma cajazeira no meio da Avenida Airton Sena. Foi socorrido inicialmente por seu sobrinho, o presidente da Câmara Alziro Gomes de Souza Neto (Alzirinho), e atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com ferimentos e edema no pescoço, tendo sido liberado. Durante a madrugada houve agravamento do quadro — aumento do edema e dificuldades respiratórias — motivando retorno à UPA e transferência imediata para Araguaína. Foi submetido a cirurgia de emergência para controle de edema em uma artéria, permaneceu em estado delicado nos dias seguintes e não resistiu às complicações, vindo a falecer.

Legado 

José Bonifácio Gomes de Souza deixa forte marca na história política de Tocantinópolis e do Tocantins: homem oriundo de família tradicional do município, servidor público (Polícia Federal e INSS), advogado, três vezes prefeito e breve senador da República. Figura controversa em episódios de sua trajetória, também foi reconhecido por sua capacidade de mobilizar apoios e por buscar recursos para sua terra natal. Sua vida pública reflete as contradições e os compromissos da política municipal e estadual ao longo de décadas.