As operações da Polícia Federal no Maranhão já não causam surpresa pelo barulho das sirenes, mas pelo alvo escolhido. O padrão se repete: prefeitos que, por coincidência ou não, se alinharam ao governador Carlos Brandão acabam no centro das manchetes.
O enredo mais ruidoso começou em Caxias, onde uma empresa associada a uma deputada estadual e a um secretário de Estado, ambos próximos ao Palácio dos Leões, apareceu como peça-chave da investigação. Dali em diante, o inquérito se espraiou, atingindo diferentes municípios em sequência.
Em Imperatriz, o impacto foi imediato: a cidade, administrada por um prefeito que já havia declarado fidelidade política, entrou no rol das investigações. Em Timon, a situação se repetiu, com a gestão municipal sendo exposta em meio a mandados e buscas.
Santa Inês também foi alvo, seguida de Pindaré-Mirim e Itapecuru-Mirim, todos com prefeitos que, de diferentes matizes partidárias, compartilham um denominador comum: o apoio público ao governador. Até mesmo São José de Ribamar foi incluída na lista, reforçando a sensação de que a operação escolheu seus endereços não apenas por contratos, mas também por efeitos políticos.
E, ao final, chega-se a Estreito. O município manteve contratos antigos com a empresa questionada, sem que irregularidades tivessem sido apontadas. Ainda assim, entrou no mapa da operação. A cidade, que poderia ser tratada como coadjuvante, acabou usada como vitrine: prova de que qualquer vínculo, ainda que remoto, basta para justificar a inclusão no inquérito.
O resultado é um inquérito que nunca se fecha uma rede de pesca predatória que lança anzóis em diferentes cidades, mas sempre fisga prefeitos do mesmo palanque.
Nos bastidores, o efeito já é claro.
Prefeitos e deputados, antes orgulhosos de declarar apoio em praça pública, agora preferem o silêncio. O apoio continua, mas de forma velada, em reuniões discretas, longe das câmeras. A política do Maranhão entrou na era do apoio escondido, ditado não pela convicção, mas pelo receio.
E em meio a tudo isso, surge um comentário inevitável, ainda que lateral: a relação entre Flávio Dino e Carlos Brandão, antes afinada, azedou de vez. Nada oficialmente conecta as operações a esse racha, mas politicamente é impossível ignorar que a ruptura abriu espaço para disputas de bastidores que, de um jeito ou de outro, ecoam nos alvos escolhidos.
A ironia é que a chamada Lei do Retorno, prometida para recuperar recursos, acabou devolvendo ao Maranhão algo muito mais antigo: a velha prática da política como campo de guerra. Hoje, quem escolhe lado não recebe apenas aplausos no palanque, recebe também de brinde, o risco de acordar com mandado na porta.