Desde o início do mês, a crise na saúde indígena do povo Apinajé, localizado na região norte do Tocantins, tem se intensificado, gerando preocupação entre as lideranças e autoridades locais. As denúncias de mortes por falta de assistência nas aldeias e a alta incidência de anemia entre as crianças indígenas são os principais pontos de alarme.
Recentemente, duas mulheres indígenas da etnia Apinajé faleceram no Hospital Regional de Augustinópolis, extremo norte do Tocantins. Judite Fernandes Apinajé, de 82 anos, morreu no dia 15 de maio, após um mês de dores abdominais não tratadas adequadamente. Uma semana antes, Maria Célia Apinajé, de 52 anos, faleceu após semanas em coma. Com esses casos, o número de óbitos na etnia Apinajé subiu para dez desde outubro, intensificando a crise de desassistência à saúde indígena na região.
A situação é crítica. Grávidas, crianças e idosos estão sem acesso a exames e atendimentos básicos de saúde. A falta de remédios e transporte para doentes é uma realidade que agrava ainda mais a condição do povo Apinajé, que vive na divisa do Tocantins com o Maranhão em 66 aldeias.
As Defensorias Públicas do Estado e da União estão ativamente trabalhando em um diagnóstico detalhado da situação e analisando cada caso individualmente. O Ministério Público Federal convocou uma audiência pública em Tocantinópolis para debater o tema, com foco também na segurança alimentar da população indígena.
Um estudo recente da Universidade Federal do Norte do Tocantins revelou dados preocupantes: 50% das crianças Apinajé em uma das aldeias pesquisadas apresentam anemia grave. A pesquisa, conduzida por uma biomédica, analisou amostras de hemoglobina em crianças de 6 meses a 5 anos e demonstrou que muitas famílias desconheciam a condição de saúde de seus filhos. A anemia infantil, uma doença diagnosticável com exames básicos, não estava sendo identificada por falta de exames simples e acessíveis.
A responsabilidade pela assistência cabe ao Distrito de Saúde Indígena do Tocantins, envolvendo governos municipais, estaduais e federais. Apesar dos esforços mencionados pela Secretaria Estadual da Saúde para melhorar o acolhimento dos povos indígenas, a situação atual exige ações imediatas e eficazes.
Até o momento, o Ministério da Saúde, responsável pelo Distrito Sanitário Especial Indígena (DISEI), não se pronunciou sobre as medidas que serão tomadas para enfrentar essa crise.